WAGNER RODRIGUES POETA E CRONISTA

TEXTOS ORIGINAIS E PUBLICADOS NOS LIVROS DO AUTOR

  • João e o Apocalipse (Crônica de Deuses no divã)

    Endoidou, esse João! Devo ter posto muita pressão nele ou ele deve ter fumado alguma coisa antes de escrever.

    Referindo-se às sete igrejas da Ásia, começou a me descrever como se eu fosse um híbrido psicodélico de dragão com ovelha!

    E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo;
    E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas.
    E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece.
    E eu, quando o vi, caí a seus pés como morto; e ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas; Eu sou o primeiro e o último
    ; Apocalipse 1:14-17

    Assustador! Isso denigre minha imagem de Deus pai. Em seguida, João me comparou a sete raios, talvez me confundindo com aquele falsário do Zeus. Transformou minha trindade em sete espíritos. Fez as contas, três vezes sete, vinte e um e somando eu mesmo que sou três obteve vinte quatro. Assim colocou à minha frente 24 reis velhos. Reis sei lá de quê!

    E ao redor do trono havia vinte e quatro tronos; e vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes brancas; e tinham sobre suas cabeças coroas de ouro.
    E do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus.
    Apocalipse 4:4,5

    Continuou com sua matemática louca do 24. Inventou uns tais de 4 animais olhudos com seis asas: de quatro vezes seis, vinte e quatro:

    E havia diante do trono um como mar de vidro, semelhante ao cristal. E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais cheios de olhos, por diante e por detrás.
    E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal semelhante a um bezerro, e tinha o terceiro animal o rosto como de homem, e o quarto animal era semelhante a uma águia voando.
    E os quatro animais tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir
    . Apocalipse 4:6-8

    Me digam? Isso não é coisa de quem exagerou no LSD? Nem nos tempos dos Beatles ouvi algo semelhante. Foi quando perdeu totalmente a noção e inventou uma quantidade tão grande de anjos que nem mesmo eu entendi o que ele quis dizer:

    E olhei, e ouvi a voz de muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos; e era o número deles milhões de milhões, e milhares de milhares, Apocalipse 5:11

    Seguindo nesta toada dos vinte quatro, voltou a falar de quatro cavalos coloridos, branco, vermelho, preto e amarelo, obviamente se referindo às raças humanas que eu criei. Assim acho eu! Em seguida, foi politicamente incorreto, colocando uma coroa de rei na cabeça dos brancos, mandou os índios se matarem uns aos outros, ao preto trabalhar numa lojinha, enquanto aos asiáticos mandou que matassem um quarto da humanidade com guerra biológica, agente laranja ou morticínios em arenas, como aconteceria em Roma.

    E olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vitorioso, e para vencer.
    E, havendo aberto o segundo selo, ouvi o segundo animal, dizendo: Vem, e vê.
    E saiu outro cavalo, vermelho; e ao que estava assentado sobre ele foi dado que tirasse a paz da terra, e que se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada.
    E, havendo aberto o terceiro selo, ouvi dizer o terceiro animal: Vem, e vê. E olhei, e eis um cavalo preto e o que sobre ele estava assentado tinha uma balança em sua mão.
    E ouvi uma voz no meio dos quatro animais, que dizia: Uma medida de trigo por um dinheiro, e três medidas de cevada por um dinheiro; e não danifiques o azeite e o vinho.
    E, havendo aberto o quarto selo, ouvi a voz do quarto animal, que dizia: Vem, e vê.
    E olhei, e eis um cavalo amarelo, e o que estava assentado sobre ele tinha por nome Morte; e o inferno o seguia; e foi-lhes dado poder para matar a quarta parte da terra, com espada, e com fome, e com peste, e com as feras da terra
    . Apocalipse 6:2-8

    Assustador, não é?

    Continuou com a matemática chapadona. Disse que comeu um livrinho que um anjo trouxe, prometendo fogo, enxofre, gafanhotos, mulher grávida com asas de águia, dragão com sete chifres, bichos esquisitos e coisa assim:

    E a voz que eu do céu tinha ouvido tornou a falar comigo, e disse: Vai, e toma o livrinho aberto da mão do anjo que está em pé sobre o mar e sobre a terra.
    E fui ao anjo, dizendo-lhe: Dá-me o livrinho. E ele disse-me: Toma-o, e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel.
    E tomei o livrinho da mão do anjo, e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo
    . Apocalipse 10:8-10

    E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia.
    E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio.
    E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta
    . Apocalipse 13:1-3

    Depois disso ele promete que eu soltaria Lúcifer da prisão. Eu nem sabia que o havia prendido! Finalmente ele promete uma guerra entre Lúcifer e sua turma contra mim e meus anjos. Será possível que o Lúcifer, sabendo o que iria acontecer, se atreveria a isso! Pior, prometeu que eu jogaria os derrotados num lago de fogo e enxofre para toda a eternidade. Coisa indigna para qualquer criador onisciente, hão de convir!

    O grande problema é que João foi nomeado por mim como profeta. Já havia escrito vários artigos, todos com minha aprovação. O que posso fazer agora? As palavras de meus profetas acabam sendo minhas palavras. De fato, há muito que não converso diretamente com ninguém. No máximo apareço em sonhos ou coisa assim.

    Portanto, se meu profeta falou, falei eu. E minha palavra é lei. Não vai ter jeito. Sinto muito, mas no final vou ter que botar para quebrar!

    Palavra de Deus!

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  • MADRUGADA (Poema de No limite da consciência)

    Acordei de madrugada

    Brigando com meus pensamentos.

    Se fico os pensamentos devoram, levanto e os acalento.

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  • O trem fantasma (Poema de Bolhas de sabão)

    Esta história não é bonita,

    Meu avô me esclareceu.

    Ela é sim muito sinistra,

    Mas de fato aconteceu.

    Diziam ter feito maldades,

    Coisas de nem se contar,

    Naquela pequena cidade

    Com a linha férrea a cortar.

    Rocinha, assim era chamada

    Por tropeiros que passavam,

    Pois os que lá se instaram

    Para o sustento plantavam.

    Pois ali se deu o fato

    Que beirou a insanidade.

    Quase um conto de terror

    E virou mito na cidade.

    Na estrada da boiada,

    Ao tentar bulir com o poço,

    Felizardo, só no nome,

    Encontrou seu cadafalso.

    Escutaram-no dois moços,

    Num pedido de socorro

    Gritado de dentro do poço:

    -Acudam aqui, que eu morro!

    Atenderam ao chamado

    E para tentar salvação,

    Içar o pobre coitado

    Era deles a intensão.

    O local era remoto

    Bem perto da ferrovia,

    Mas a corda utilizada

    A meia jornada partia.

    Tentaram de toda maneira,

    Mas, como uma maldição,

    Por mais que se empenhassem

    Não lograram a salvação.

    Quando por fim desistiram

    Pois o pedido calou,

    Na ferrovia ao lado

    A locomotiva apitou.

    O que agora se segue

    Acrescenta o contador,

    Não para mudar a história,

    Mas para lhe dar mais sabor.

    Dizem que a alma penada

    De Candido Felizardo Ferraz,

    Cuja caveira enterrada

    Naquele poço ainda jaz,

    Transformou-se no som rouco

    Que às noites o vento traz,

    Mesmo com a ferrovia fechada

    Há muitos anos atrás.

    Tentando esquecer a sina

    Da alma que o poço tomou,

    A cidade de Rocinha

    Até o seu nome mudou.

    Ao passarem por Vinhedo,

    Se ainda ouvirem um rolar,

    É do trem e seu segredo:

    Carregar Felizardo a penar.

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  • A montanha e o trem (Poema de Bolhas de sabão)

    A velha Maria Fumaça

    Mais uma vez se prepara

    Desde a ravina profunda

    Que o vento cioso formara,

    Para subir a montanha

    Como tantas vezes ousara.

    Por caminhos estreitos

    Talhados no precipício,

    Passaria por pontes e túneis

    Sem medir seu sacrifício,

    Seguindo em sua toada

    A rotina do exercício,

    Servida com água e hulha

    Do foguista em seu ofício.

    A pressão que dá o vapor

    Era sua energia.

    Produzida do calor,

    Como há muito assim fazia

    A caldeira enferrujada,

    Mas em serventia.

    Seguiria qual serpente,

    Carregando coisa e gente

    Precisados lá em cima.

    As cidades do planalto

    Esperavam, lá no alto,

    Que cumprisse sua rotina.

    Já cansada, mas ativa,

    Ia fazer nova viagem.

    Mas sabia lá no fundo

    Que as mudanças deste mundo

    Iam cobrar sua passagem.

    E seria posta de lado

    Como sonho ultrapassado,

    Num terreno descoberto,

    Para que enferrujasse

    E do tempo esfacelasse

    Em cemitério a céu aberto.

    Mesmo que a sinuosa estrada

    Fosse por fim abandonada,

    Pois o mundo mais moderno

    Sempre traça novos rumos,

    Esperava que a montanha

    Se lembrasse dos seus fumos.

    E assim seguiu em frente,

    Rumo ao alto e ao poente

    No ritmo de sua braçagem.

    Com foguista em seu posto

    E o maquinista disposto,

    Com o apito, abriu passagem.

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  • Encontro (Poema de Bátrakhos)

    Um encontro não buscado colhi

    Nas fronteiras do habitual.

    Descalço, barbas longas, ia ali

    Como vai quem não teme seu final.

    Encontrei um mendigo no outro lado da rua.

    No outro lado da rua, era um mendigo.

    Benzia-se louco, pobre mendigo,

    Com um gesto ambidestro, sem sentido,

    Resignado ao seu absurdo castigo.

    Insano, louco, doido varrido!

    Encontrei um louco no outro lado da rua.

    No outro lado da rua, era um louco.

    Mas se a prece estranha era sincera,

    Se sua alma clemente por outras O venera,

    Se pelas almas dos homens pedia seu canto,

    Não podia ser só mais um louco.

    Como um santo rezava este seu credo rouco

    E benzia-se ambidestro, por nós, como um santo.

    Encontrei um santo no outro lado da rua.

    No outro lado da rua, era um santo.

    No outro lado da rua há um homem.

    Há um homem no outro lado da rua.

    Miserável pela minha injustiça,

    Louco pela minha incoerência,

    Santo pela sua clemência.

    Encontrei um homem no outro lado da rua.

    No outro lado da rua, era um homem.

    Era um homem no outro lado da rua,

    E esse homem, afinal, sou eu.

    Encontrei-me eu outro.

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  • Religião (Crônica inédita)

    Existem algumas teorias sobre a origem da palavra no latim.  “Religio” como louvor e reverência aos deuses, “re-ligare” como ligar novamente o humano ao divino e até “relegere” que significa a constante leitura e interpretação de textos sagrados. Seja qual for a verdadeira etimologia de “religião”, o que se observa na história do ser humano é a constante tentativa de explicar a origem de tudo de uma forma sobrenatural, para atenuar o temor à finitude com uma explicação que conduza a algum tipo de esperança. Ao mesmo tempo, talvez, ajude a definir formas mais adequadas de comportamento e conduta nas sociedades, seja para controle, produtividade, lealdade e respeito às instituições que se estabeleceram.  Parece que até Aristóteles, que possuía uma interpretação não intervencionista de Deus, admitia a religião como necessária na sua forma mais popular, para o conforto da sociedade.

    A origem quase sempre são mitos que vão sendo repetidos ou escritos que lidem com essas angústias do pensamento humano.

    Nem sempre a lógica caminha junto aos mitos já que sempre há uma grande porção de magia, algo que transcende ao mundo natural, nas soluções que definem origem e destino dos seres viventes, principalmente os humanos. Curioso ou não, há uma grande semelhança nas soluções encontradas para as várias explicações possíveis.

    De certa forma, apesar da colocação de seres transcendentais que controlam a existência, religiões respondem de forma ao que fazem as várias teorias da física não experimental. Há propostas de soluções de universo infinitos ou limitados, eternos ou temporais, lineares ou cíclicos nos dois campos do pensamento humano, como bem observa Marcelo Gleiser em seu livro “A dança do Universo”.

    Mas em todos os mitos, com Deus ou deuses criados pela mente humana, a lógica se detinha ao conhecimento e desconhecimento de suas épocas, portanto sujeitas à crítica da lógica e do conhecimento que o desenvolvimento da ciência proporcionou. À medida que o pensamento lógico foi se desenvolvendo as religiões começaram a passar por algum escrutínio. Sócrates, considerado o primeiro grande filósofo e que teve Platão como seu grande discípulo (Sendo que Platão teve em Sócrates como seguidor), declarava-se ateu. Sócrates foi preso e morto por corromper a juventude ateniense por seus ensinamentos.

    Apesar das teorias mitológicas ligadas à divindade serem várias, existe algo que sempre as uniu. Algo imprescindível à sua manutenção até nossos dias, apesar de todas as inconsistências. Algo terrível que as sustentam e causam um grande mal a quem as desafie. Essa força que mantem a religião contra o bom senso e contra a verdade chama-se FÉ.

    Sei que fé é só embuste

    A levar a outros deuses,

    Desses que inventamos

    A servir nossos propósitos.

    Quero a ti real e vero.

    Conhecer os teus mistérios.”

    Este trecho do meu poema, “Conversa com Deus”, publicado em Bátrakhos em 2017, apresenta o lado menos nocivo da crença sem ressalvas. Fé como forma de engano.

    Em Matheus, capítulo 18 versículo 3 Jesus afirma: “E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.” Isso significa crer sem questionamento, de forma humilde e singela. Sócrates, quando questionava a fé do povo ateniense segundo seu pensamento filosófico, não era como uma criança. Era como um crítico da falta de bom senso e de sentido lógico.

    O outro elemento usado por traz da bandeira da fé foi o terror. Um terror justificado pela divindade.

    Muitos foram os mártires por pensarem e expressarem seus pensamentos.

    O cristianismo, mais especificamente o catolicismo, perseguiu, torturou, condenou e matou muitos pensadores contrários aos dogmas da igreja. O livro “Index Librorum Prohibitorum” de 1559 do Papa Joao IV, proibia várias obras que incluíam as dos cientistas: Giordano Bruno, Nicolau Maquiavel, Voltaire, Erasmo de Roterdã, John Locke, Berkeley, Denis Diderot, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, René Descartes, Rousseau, Montesquieu, David Hume ou Immanuel Kant, Pascal, Dante de Alighieri, Descartes, Jean-Jacques Rousseau, entre outros. Alguns foram torturados e até mortos pela inquisição espanhola. Outros tantos, como Galileu Galilei, tiveram que rejeitar suas teses, ao menos em público, para não sofrerem o pior.

    Muitas religiões são mortais àqueles que as desafiam. Quando a religião se apropria do estado as consequências são devastadoras. O medo e o terror sempre foram aliados da crença. Jihads, Cruzadas, a guerra dos trinta anos entre católicos e protestantes, ataques suicidas, terrorismo de todas as formas, genocídios dos mais diversos entre mulçumanos e cristãos, entre mulçumanos e hindus, entre católicos e protestantes, entre cristãos e indígenas e muito mais.

    É tão simples contestar com a lógica a maioria, se não todas, as grandes religiões da humanidade. O Torá, a bíblia cristã e o Alcorão todos apresentam o universo como criado e finito, além de absurdamente novo, embora os teólogos crentes tentem encontrar justificativas para a absurda falta de lógica. Nos livros judaicos e cristãos a contagem do tempo através das gerações inumeradas de Adão até Noé, depois de Noé até Abrão, de Abrão até Davi, de Davi até José, suposto pai adotivo de Jesus, e depois os 2024 anos depois de Cristo até nossa era começam em Gênesis, continuam em Êxodo e Deuteronômio do pentateuco de Moisés, seguindo por Daniel e Ezequiel e depois confirmados pelo novo testamento Cristão em Marcos e Lucas confirmam que a humanidade foi criada praticamente junto de toda raça animal e o Universo há pouco mais de seis mil anos.   Óbvio que não foi assim! Por todas as evidências e comprovações da ciência, geologia, química nuclear, física… O estudo dos fósseis comprova que os dinossauros foram extintos há mais de 60 milhões de anos e que nunca conviveram com a humanidade que existe há menos de 200 mil anos.

    Das inúmeras religiões que existem na face da terra, se uma for verdadeira todas as outras serão falsas. Isto é lógica pura. Já mostramos que, se existe alguma religião verdadeira ela não é o Islam, nem o Judaísmo, nem qualquer religião cristã.

    Não cabe neste texto provar que Tupã, Zeus, Xangô, Júpiter, Shiva, Nanahuatzim, Odin ou cada deus e cada religião não sejam verdadeiras. Não temos nem espaço nem pesquisa para tanto. O hiper provável é que nenhuma dessas religiões seja verdadeira já que sua origem é a mente humana e seu motor é a crença através da fé.

    Se existe um Deus verdadeiro ou não existe Deus algum é algo impossível de comprovar. Fato é que, caso ele exista, ele não quer, não pode ou não se interessa em comunicar-se com a mente humana.

    A procura desse Deus pode ser válida, mas provavelmente terá o fim que propõem meu poema (Oração, publicado em Bátrakhos em 2017):

    “Procuro tua face entre galáxias e estrelas.

    Revolvo moléculas, átomos e partículas gregas.

    Na vastidão dos oceanos,

    Na imensidão do universo,

    Na infinitesimal parte da matéria vasculho…

    E só encontro o véu imenso que cobre o teu rosto.

    Ouço muitas vozes em montanhas e desertos,

    Sons de riachos irrequietos, de ventos instáveis,

    Vozes de tormentas indecifráveis

    E ensurdecedores sons de estrelas deglutidas.          

    Será alguma delas realmente a tua?

    Quiçá nem mesmo fales

    E o que ouço são ecos de vozes primárias

    Que voltam do infinito.

    Talvez nem te ocupes de existir…

    Me abandonas desesperançado,

    Procurando e procurando…

    Até que eu mesmo me junte a ti.”

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  • MMA dos Deuses (Poema de No limite da consciência)

    Os deuses se reuniram

    Para definir, afinal,

    Qual era o deus entre os deuses

    A se aclamar entre eles

    Tornando-se o primordial.

    Entre os politeístas,

    Que trouxeram sua torcida,

    Estava Zeus, muito culto,

    Por ter abrigado, em tributo,

    A grande Escola de Atenas.

    Entre os deuses de Roma,

    Escolhido meio às pressas,

    Júpiter superou Apolo

    Que se ocupara com Juno

    Em colóquio celestial.

    Odin chegou bem nervoso

    Por causa de Ragnarok.

    Entre os deuses, surpreendia.

    Era o único que conhecia

    Sua morte e seu final.

    Os dois deuses desses primos

    Chegaram em acusações:

    Jeová reclamava de plágio,

    Enquanto Alá retrucava

    Que, ao menos, não engravidara

    A mãe do povo cristão.

    Muitos mais foram chegando,

    Deus selvagem, deus sacana,

    Tinha deus de todo tipo,

    Deus eterno, deus erudito,

    Deus do inferno e do infinito.

    Todo deus, como é sabido,

    Tem um ego colossal!

    Como todo-poderoso

    Cada um tinha certeza

    De ser ele o maioral.

    Não houve a possibilidade

    Da coisa sair só no papo,

    Na base da democracia.

    A escolha seria no tapa,

    Só assim, então, fluiria.

    Não posso contar o que houve,

    Está muito além do meu tema.

    É bom deixar por aqui,

    Melhor terminar o poema.

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  • Bátrakhos III (Poema de No limite da consciência)

    Sou um príncipe, acreditem,

    Do encantado reino de Alkaim.

    Se encontrarem uma princesa,

    Mande-a logo atrás de mim.

    De um beijo necessito

    Que me livre desse encanto,

    Sou bem feio assim por fora,

    Mas por dentro… sou um santo.

    Mas avisem a dita cuja

    Da condição “alvissareira”:

    Tem que ter um bom estômago

    Ou enxergar tal qual toupeira.

    O beijo tem que ser bom beijo,

    Beijo de língua e tudo mais,

    Ou não sei é se eu retorno

    A ser o belo e bom rapaz.

    Claro que estou aqui pelado,

    Sendo mister trazer com ela

    Um traje nobre e majestoso

    Com faixa verde e amarela.

    O meu tamanho é GG

    Por causa da ossatura,

    A cintura é cento e dez,

    Mas tenho pouca gordura.

    Traga um cinto reforçado

    Em couro e uma boa fivela,

    Que a calça não seja longa

    Para não amontoar na canela.

    Os meus cabelos dourados

    São apliques, qual donzela…

    …Se a princesa não vier,

    Podem trazer a mãe dela.

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  • CHEIRO (Poema de No limite da consciência)

    O nariz me avisou

    Que é hora de agir.

    Vou comer, amar, correr… vou tossir, morrer, sumir.

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  • Bátrakhos II (Poema de Pássaro na Gaiola)

    Com olhos bem brilhantes,

    Pousava nos ramos torcidos

    Que emergiam no charco

    Formado ao lado do rio.

    Esperava bem quietinho

    A noite que vinha chegando,

    Já sonhando o luar largado

    A brilhar na folharia.

    Na noite a luz traz insetos

    Que o sapo come depressa

    Até hora mais certa

    Quando hormônio de sapo desperta.

    Então se lembra, expedito,

    Da cantiga ancestral

    Que os sapos já nascem sabendo

    Desde tempo imemorial.

    A trova sempre funciona

    No meio da saparia

    A atrair a desejada,

    Bem aquela que queria.

    Os olhares vão cruzar

    A ver o que outros não vêm:

    A beleza da sapinha

    Que só mesmo ela a tem.

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