WAGNER RODRIGUES POETA E CRONISTA

TEXTOS ORIGINAIS E PUBLICADOS NOS LIVROS DO AUTOR

Quem será minha namorada? (Crônica de Memórias de um paulistano)

Eram as meninas.

Eram as meninas que circulavam os fuxicos dentro da classe e dentro da escola. “Marina gosta do Ronaldo!” “Taeko gosta do Luís!”  E corriam as notícias plantadas pelas melhores amigas, sem o consentimento expresso, mas creio que com a aprovação velada das citadas.

Também inventavam inúmeras brincadeiras de gostar e desgostar, de escrever o que se pensava deste e daquele, enquanto o caderno corria de mão em mão e mensagens chegavam ocasionalmente, mas sem falta, a seus destinos.

Todo menino ficava sabendo de suas pretendentes e das pretendentes dos outros.

Com os meninos era diferente. Eles gostavam sim, mas seus segredos morriam calados nos ouvidos dos seus confidentes, isto quando ousavam sair dos lábios do desafortunado.

Soube de alguns meninos que envelheceram e ainda cultuam aquela menina inatingível, hoje sexagenária. 

Eu não era o ídolo da classe, mas era bom aluno e com o tempo e gosto pelos esportes fui ficando com um físico razoável. Assim, passei a figurar em algumas das listas do gosto e não gosto. Algumas eram meninas bonitas, mas nenhuma que realmente me deixasse entusiasmado pela preferência. Houve uma vez em que recebi um abaixo assinado das meninas de uma série mais nova, todas interessadas em mim. Foi muito lisonjeiro! 

Numa roda de uma brincadeira da verdade, com meninos e meninas, uma delas foi questionada sobre o que achava de mim. Senti que daquela vez a resposta me interessava. Ela, além de muito bonita, era ainda uma das meninas mais inteligentes da classe. Era muito diferente das outras, pelo menos para mim. A resposta começou agradável, com algo como “acho-o muito inteligente”. Mais algum elogio discreto, até que terminou com um “entretanto, acho-o muito imaturo”.

Claro que eu era imaturo, pois caí como um  patinho na armadilha que foi articulada desde o começo do jogo. Na minha vez de perguntar, o alvo era ela mesma, claro, e a pergunta foi o que afinal era maturidade para ela? Nem ouvi a resposta, tamanha a adrenalina que circulava nas minhas veias.

Hoje essa menina é minha esposa. Ficamos nesse gosto não gosto por todo o curso ginasial, quinto a oitavo anos de hoje, e começamos a namorar no colegial, atual ensino médio. Nós nos casamos assim que ela concluiu o curso superior, quando eu ainda cursava o último ano de engenharia.

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