
No fim da década de sessentao fim da década de sessentamuitos assistiram à série que começava com uma intrigante narrativa: “Há uma quinta dimensão além daquelas conhecidas pelo Homem. É uma dimensão tão vasta quanto o espaço e tão desprovida de tempo quanto o infinito. É o espaço intermediário entre a luz e a sombra, entre a ciência e a superstição; e se encontra entre o abismo dos temores do Homem e o cume dos seus conhecimentos. É a dimensão da fantasia. Uma região Além da Imaginação.
Mais que o tema, havia a inesquecível trilha sonora que fazia com que os pelos do braço se arrepiassem mesmo antes de qualquer história.
As tramas contadas não eram histórias de terror e praticamente não traziam efeitos especiais. Era a história, sempre intrigante, perto do real ou do possível, talvez prognóstica de futuro remoto, o que criava todo o clima da série.
Há um capítulo em especial cujo título era “Um homem só (The lonely)” que jamais esqueci e que, imagino, possa ter inspirado romances e filmes como “Inteligência Artificial” ou “O Homem Bicentenário”.
A história contava sobre um homem que é condenado a viver solitário em um planeta distante por muitos anos. O homem somente escapa da loucura pela companhia de uma máquina (um robô) feminina, com toda a aparência e desempenho de uma mulher verdadeira. Esta lhe é deixada por compaixão. A princípio ela é rejeitada, mas, com o tempo, o homem aprende a amá-la de verdade.
O final, como sempre, é dramático e enigmático. Cumprida a pena vem o tempo do seu resgate. Mas ocorre um acidente e a nave fica com pouco combustível para o retorno. Assim precisa ser aliviada de peso e o capitão define que a mulher robô tem que ser deixada no planeta. O condenado fica desesperado, mas com um tiro na cabeça da mulher robô ela começa a destruir-se. Então, com aparência de máquina, fica repetindo o nome do homem que a amou, deixando a questão de se afinal a máquina sentiria o mesmo.
A questão da autoconsciência é inevitavelmente levantada.
Onde está o limite da consciência de si? Estará no ser humano, mesmo nos Neandertais? E os primatas teriam autoconsciência? E os outros animais e seres vivos? Será possível repetir artificialmente as sinapses que definem o sentimento?
Descartes apresenta um silogismo inclusivo, mas não restritivo em seu “Penso, logo existo”. Mas ao racionalizar a existência da autoconsciência, da auto percepção, posso estendê-la com facilidade até outros seres humanos. Mas por que não até minha cachorrinha?
Onde fazer o corte e por qual motivo?
Talvez mesmo a máquina ao decodificar, responder, acumular informação possa dominar a linguagem e a comunicação. Se ela puder se socializar e tiver, na sua mecânica, coisa parecida com as relações neuronais que permitem o sentimento, o que faltaria para o seu autoconhecimento.
Como vê, Além da Imaginação fazia mais que entreter, levava-nos a pensar, a expandir nossa mente. Também não nos deixava dormir direito nas noites do seriado.
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