
Não me confundam com o anestésico, o etoxietano que muita gente cheirou para fazer amidalectomia nos meados do século XX. Sou um deus, não uma substância. Mais ainda, sou um dos deuses primordiais da idade de ouro da humanidade. Sou filho de Érebo (trevas) e neto de Caos, o primeiro de todos os deuses. Falam deles até no livro de Gênesis: “No princípio Deus criou os céus e a terra. Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. Gênesis 1:1,2” Minha mãe é Nix, a deusa noite. Assim, sou um deus de primeiríssima estirpe.
Notem os senhores que, até alguns curiosos da física mais moderna se intrometerem no que não deviam, eu era a explicação para muita coisa que acontecia no cosmo. Isto era aceito por todos os cientistas da humanidade. Sir Isaac Newton acreditava piamente em mim, assim como todos seus discípulos da física clássica. Tudo ia maravilhosamente bem até o alemão Albert Michelson e o americano Edward Morley se unirem para tentar me ver e até me medir. Vejam o absurdo. Ver e medir um deus!
O que eles fizeram é meio difícil de entender, até mesmo para um deus. Mas pretendiam provar que a luz viajava a uma velocidade constante através de mim, o Éter. Isso muito me lisonjeava. Seria eu as ordenadas de referência de tudo? Eu era considerado desde Galileu até Newton, até esse experimento desgraçado, como o meio absoluto no espaço pelo qual todas as ondas eletromagnéticas, como a luz, se propagavam. Eu era o oceano delas!
Bom, a coisa começou a complicar com a matemática do Maxwell. Na verdade, a dupla américo-germânica tinha boa intenção e pretendia mostrar que eu estava lá e tinha este importante papel na ciência, desmentindo as continhas do Maxwell.
A engenhoca deles devia mostrar resultados provando meus predicados. Entretanto, acabaram por provar o contrário. Chegaram à triste conclusão de que eu não existia!
Em seguida, veio o tal do Einstein e chutou a barraca de vez. Fui colocado de lado, juntamente com o Cronos, em favor desse deusinho vaidoso, o Apolo, o deus da luz.
Esse Apolo, apesar de toda pompa, como perceberam todos os escultores romanos, não era muito bem-dotado, se é que entendem o que eu estou dizendo. Podia ter muita energia, mas a matéria não estava onde devia…
Eu sei que digo isso porque estou indignado. Na verdade, estou bastante chateado com vocês humanos. Essa coisa de relatividade, de transformadas parabólicas são coisas lá do Hades. Ele é que fica enfiando minhocas na cabeça de vocês.
Falando em minhoca, houve um inglês tresloucado que ficou dizendo que, além de eu não ser um Éter absoluto, ainda estaria cheio de buracos de minhoca.
Isso já é demais!
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