WAGNER RODRIGUES POETA E CRONISTA

TEXTOS ORIGINAIS E PUBLICADOS NOS LIVROS DO AUTOR

Dupla fenda (poema de No limite da consciência)

Às vezes sinto vontade de pensar no impossível,

Nas realidades estranhas de experiências muito loucas

Que ofendem o nosso senso com efeitos intrigantes,

Mas tão reais quanto tudo e mais reais que o espanto.

Sobre as interferências das ondas,

Por volta de um mil e oitocentos

Já havia Thomas Young

Nos brindando com experimentos

Da ótica tradicional.

A luz ao passar pelas fendas

Definia duas origens de ondas

Que se ampliavam ou sumiam

Projetando numa tela plana

Listras de sombras e de luz.

A zebra assim desenhada

Era como se duas pedras num lago

Provocassem dois grandes círculos

De ondas que se chocassem,

Provocando outras ondas

Diferentes das primeiras,

Partes por elas ampliadas

Entre partes bem maneiras.

Anos após veio o espanto

Que a mesma experiência daria

Feitas com feixes de elétrons

Que o mundo então mudaria.

Não que mudasse de fato

Pois o fato era de fato obtuso

Só difícil de aceitar

Deixando mesmo o sábio confuso.

O elétron, uma pequena pedrinha,

Teve um mal comportamento,

Pois mudava de atitude

Quando olhado por um momento.

Se ninguém o vigiasse

Seguia como o feixe de luz,

Mas se olhado por curiosos

Outro percurso o seguia.

Isto não prestava à ciência

Tal como então se entendia.

Como esse elétron malandro

Teria tamanha ousadia?

Até Einstein não aceitou

Essa atitude pilantra.

Estaria Deus a jogar dados

Ou os dados a criar mantras?

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