
O trem singrava pela mata muito densa
Cortada há tempos através da serra fria,
Furava morros e se arriscava entre os abismos
Com a força bruta da braçagem incansável
Atenta às ordens da fiel maquinaria.
Manacás corriam pelo verde das montanhas
Com nuances ternas dos seus tons de violeta,
A pleno sol ou sobre as sombras mais escuras
Torciam pescoços que espiavam das janelas
Num torpor hipnótico de novidade e formosura.
Corredeiras ágeis se esgueiravam sob os trilhos
Polindo um brilho de humidade aos pedregulhos,
Trocavam prozas num cochicho indecifrável
Com samambaias e o musgo denso das beiradas
E se perdiam, mais abaixo, sob os arbustos.
Uma casinha, em dissonante, aparecia
Tão improvável que os olhares arrematava…
Quem poderia valer-se dela, lá, tão remota,
Quantas histórias, essas pessoas… imaginava
Pela janela, em reflexão, a minha tia.
E eu, menino, ao lado dela, então criava
Algum romance dessas pessoas lá do mato
Que esperavam o trem passar para que lembrassem
Que existiam, que amavam e que sofriam,
Ouvindo o apito e ronronar da ferrovia.
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