
A velha Maria Fumaça
Mais uma vez se prepara
Desde a ravina profunda
Que o vento cioso formara,
Para subir a montanha
Como tantas vezes ousara.
Por caminhos estreitos
Talhados no precipício,
Passaria por pontes e túneis
Sem medir seu sacrifício,
Seguindo em sua toada
A rotina do exercício,
Servida com água e hulha
Do foguista em seu ofício.
A pressão que dá o vapor
Era sua energia.
Produzida do calor,
Como há muito assim fazia
A caldeira enferrujada,
Mas ainda em serventia.
Seguiria qual serpente,
Carregando coisa e gente
Precisados lá em cima.
As cidades do planalto
Esperavam, lá no alto,
Que cumprisse sua rotina.
Já cansada, mas ativa,
Ia fazer nova viagem.
Mas sabia lá no fundo
Que as mudanças deste mundo
Iam cobrar sua passagem.
E seria posta ao lado
Como sonho ultrapassado,
Num terreno descoberto,
Para que enferrujasse
E do tempo esfacelasse
Em cemitério a céu aberto.
Mesmo que a sinuosa estrada
Fosse por fim abandonada,
Pois o mundo mais moderno
Sempre traça novos rumos,
Esperava que a montanha
Se lembrasse dos seus fumos.
E assim seguiu em frente,
Rumo ao alto e ao poente
No ritmo de sua braçagem.
Com foguista em seu posto
E o maquinista disposto,
Com o apito, abriu passagem.
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