
Esta história não é bonita,
Meu avô me esclareceu.
Ela é sim muito sinistra,
Mas de fato aconteceu.
Diziam ter feito maldades,
Coisas de nem se contar,
Naquela pequena cidade
Com a linha férrea a cortar.
Rocinha, assim era chamada
Por tropeiros que passavam,
Pois os que lá se instaram
Para o sustento plantavam.
Pois ali se deu o fato
Que beirou a insanidade.
Quase um conto de terror
E virou mito na cidade.
Na estrada da boiada,
Ao tentar bulir com o poço,
Felizardo, só no nome,
Encontrou seu cadafalso.
Escutaram-no dois moços,
Num pedido de socorro
Gritado de dentro do poço:
-Acudam aqui, que eu morro!
Atenderam ao chamado
E para tentar salvação,
Içar o pobre coitado
Era deles a intensão.
O local era remoto
Bem perto da ferrovia,
Mas a corda utilizada
A meia jornada partia.
Tentaram de toda maneira,
Mas, como uma maldição,
Por mais que se empenhassem
Não lograram a salvação.
Quando por fim desistiram
Pois o pedido calou,
Na ferrovia ao lado
A locomotiva apitou.
O que agora se segue
Acrescenta o contador,
Não para mudar a história,
Mas para lhe dar mais sabor.
Dizem que a alma penada
De Candido Felizardo Ferraz,
Cuja caveira enterrada
Naquele poço ainda jaz,
Transformou-se no som rouco
Que às noites o vento traz,
Mesmo com a ferrovia fechada
Há muitos anos atrás.
Tentando esquecer a sina
Da alma que o poço tomou,
A cidade de Rocinha
Até o seu nome mudou.
Ao passarem por Vinhedo,
Se ainda ouvirem um rolar,
É do trem e seu segredo:
Carregar Felizardo a penar.
Deixe um comentário