WAGNER RODRIGUES POETA E CRONISTA

TEXTOS ORIGINAIS E PUBLICADOS NOS LIVROS DO AUTOR

O trem fantasma (Poema de Bolhas de sabão)

Esta história não é bonita,

Meu avô me esclareceu.

Ela é sim muito sinistra,

Mas de fato aconteceu.

Diziam ter feito maldades,

Coisas de nem se contar,

Naquela pequena cidade

Com a linha férrea a cortar.

Rocinha, assim era chamada

Por tropeiros que passavam,

Pois os que lá se instaram

Para o sustento plantavam.

Pois ali se deu o fato

Que beirou a insanidade.

Quase um conto de terror

E virou mito na cidade.

Na estrada da boiada,

Ao tentar bulir com o poço,

Felizardo, só no nome,

Encontrou seu cadafalso.

Escutaram-no dois moços,

Num pedido de socorro

Gritado de dentro do poço:

-Acudam aqui, que eu morro!

Atenderam ao chamado

E para tentar salvação,

Içar o pobre coitado

Era deles a intensão.

O local era remoto

Bem perto da ferrovia,

Mas a corda utilizada

A meia jornada partia.

Tentaram de toda maneira,

Mas, como uma maldição,

Por mais que se empenhassem

Não lograram a salvação.

Quando por fim desistiram

Pois o pedido calou,

Na ferrovia ao lado

A locomotiva apitou.

O que agora se segue

Acrescenta o contador,

Não para mudar a história,

Mas para lhe dar mais sabor.

Dizem que a alma penada

De Candido Felizardo Ferraz,

Cuja caveira enterrada

Naquele poço ainda jaz,

Transformou-se no som rouco

Que às noites o vento traz,

Mesmo com a ferrovia fechada

Há muitos anos atrás.

Tentando esquecer a sina

Da alma que o poço tomou,

A cidade de Rocinha

Até o seu nome mudou.

Ao passarem por Vinhedo,

Se ainda ouvirem um rolar,

É do trem e seu segredo:

Carregar Felizardo a penar.

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