
Um encontro não buscado colhi
Nas fronteiras do habitual.
Descalço, barbas longas, ia ali
Como vai quem não teme seu final.
Encontrei um mendigo no outro lado da rua.
No outro lado da rua, era um mendigo.
Benzia-se louco, pobre mendigo,
Com um gesto ambidestro, sem sentido,
Resignado ao seu absurdo castigo.
Insano, louco, doido varrido!
Encontrei um louco no outro lado da rua.
No outro lado da rua, era um louco.
Mas se a prece estranha era sincera,
Se sua alma clemente por outras O venera,
Se pelas almas dos homens pedia seu canto,
Não podia ser só mais um louco.
Como um santo rezava este seu credo rouco
E benzia-se ambidestro, por nós, como um santo.
Encontrei um santo no outro lado da rua.
No outro lado da rua, era um santo.
No outro lado da rua há um homem.
Há um homem no outro lado da rua.
Miserável pela minha injustiça,
Louco pela minha incoerência,
Santo pela sua clemência.
Encontrei um homem no outro lado da rua.
No outro lado da rua, era um homem.
Era um homem no outro lado da rua,
E esse homem, afinal, sou eu.
Encontrei-me eu outro.
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