
Existem algumas teorias sobre a origem da palavra no latim. “Religio” como louvor e reverência aos deuses, “re-ligare” como ligar novamente o humano ao divino e até “relegere” que significa a constante leitura e interpretação de textos sagrados. Seja qual for a verdadeira etimologia de “religião”, o que se observa na história do ser humano é a constante tentativa de explicar a origem de tudo de uma forma sobrenatural, para atenuar o temor à finitude com uma explicação que conduza a algum tipo de esperança. Ao mesmo tempo, talvez, ajude a definir formas mais adequadas de comportamento e conduta nas sociedades, seja para controle, produtividade, lealdade e respeito às instituições que se estabeleceram. Parece que até Aristóteles, que possuía uma interpretação não intervencionista de Deus, admitia a religião como necessária na sua forma mais popular, para o conforto da sociedade.
A origem quase sempre são mitos que vão sendo repetidos ou escritos que lidem com essas angústias do pensamento humano.
Nem sempre a lógica caminha junto aos mitos já que sempre há uma grande porção de magia, algo que transcende ao mundo natural, nas soluções que definem origem e destino dos seres viventes, principalmente os humanos. Curioso ou não, há uma grande semelhança nas soluções encontradas para as várias explicações possíveis.
De certa forma, apesar da colocação de seres transcendentais que controlam a existência, religiões respondem de forma ao que fazem as várias teorias da física não experimental. Há propostas de soluções de universo infinitos ou limitados, eternos ou temporais, lineares ou cíclicos nos dois campos do pensamento humano, como bem observa Marcelo Gleiser em seu livro “A dança do Universo”.
Mas em todos os mitos, com Deus ou deuses criados pela mente humana, a lógica se detinha ao conhecimento e desconhecimento de suas épocas, portanto sujeitas à crítica da lógica e do conhecimento que o desenvolvimento da ciência proporcionou. À medida que o pensamento lógico foi se desenvolvendo as religiões começaram a passar por algum escrutínio. Sócrates, considerado o primeiro grande filósofo e que teve Platão como seu grande discípulo (Sendo que Platão teve em Sócrates como seguidor), declarava-se ateu. Sócrates foi preso e morto por corromper a juventude ateniense por seus ensinamentos.
Apesar das teorias mitológicas ligadas à divindade serem várias, existe algo que sempre as uniu. Algo imprescindível à sua manutenção até nossos dias, apesar de todas as inconsistências. Algo terrível que as sustentam e causam um grande mal a quem as desafie. Essa força que mantem a religião contra o bom senso e contra a verdade chama-se FÉ.
“Sei que fé é só embuste
A levar a outros deuses,
Desses que inventamos
A servir nossos propósitos.
Quero a ti real e vero.
Conhecer os teus mistérios.”
Este trecho do meu poema, “Conversa com Deus”, publicado em Bátrakhos em 2017, apresenta o lado menos nocivo da crença sem ressalvas. Fé como forma de engano.
Em Matheus, capítulo 18 versículo 3 Jesus afirma: “3 E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.” Isso significa crer sem questionamento, de forma humilde e singela. Sócrates, quando questionava a fé do povo ateniense segundo seu pensamento filosófico, não era como uma criança. Era como um crítico da falta de bom senso e de sentido lógico.
O outro elemento usado por traz da bandeira da fé foi o terror. Um terror justificado pela divindade.
Muitos foram os mártires por pensarem e expressarem seus pensamentos.
O cristianismo, mais especificamente o catolicismo, perseguiu, torturou, condenou e matou muitos pensadores contrários aos dogmas da igreja. O livro “Index Librorum Prohibitorum” de 1559 do Papa Joao IV, proibia várias obras que incluíam as dos cientistas: Giordano Bruno, Nicolau Maquiavel, Voltaire, Erasmo de Roterdã, John Locke, Berkeley, Denis Diderot, Blaise Pascal, Thomas Hobbes, René Descartes, Rousseau, Montesquieu, David Hume ou Immanuel Kant, Pascal, Dante de Alighieri, Descartes, Jean-Jacques Rousseau, entre outros. Alguns foram torturados e até mortos pela inquisição espanhola. Outros tantos, como Galileu Galilei, tiveram que rejeitar suas teses, ao menos em público, para não sofrerem o pior.
Muitas religiões são mortais àqueles que as desafiam. Quando a religião se apropria do estado as consequências são devastadoras. O medo e o terror sempre foram aliados da crença. Jihads, Cruzadas, a guerra dos trinta anos entre católicos e protestantes, ataques suicidas, terrorismo de todas as formas, genocídios dos mais diversos entre mulçumanos e cristãos, entre mulçumanos e hindus, entre católicos e protestantes, entre cristãos e indígenas e muito mais.
É tão simples contestar com a lógica a maioria, se não todas, as grandes religiões da humanidade. O Torá, a bíblia cristã e o Alcorão todos apresentam o universo como criado e finito, além de absurdamente novo, embora os teólogos crentes tentem encontrar justificativas para a absurda falta de lógica. Nos livros judaicos e cristãos a contagem do tempo através das gerações inumeradas de Adão até Noé, depois de Noé até Abrão, de Abrão até Davi, de Davi até José, suposto pai adotivo de Jesus, e depois os 2024 anos depois de Cristo até nossa era começam em Gênesis, continuam em Êxodo e Deuteronômio do pentateuco de Moisés, seguindo por Daniel e Ezequiel e depois confirmados pelo novo testamento Cristão em Marcos e Lucas confirmam que a humanidade foi criada praticamente junto de toda raça animal e o Universo há pouco mais de seis mil anos. Óbvio que não foi assim! Por todas as evidências e comprovações da ciência, geologia, química nuclear, física… O estudo dos fósseis comprova que os dinossauros foram extintos há mais de 60 milhões de anos e que nunca conviveram com a humanidade que existe há menos de 200 mil anos.
Das inúmeras religiões que existem na face da terra, se uma for verdadeira todas as outras serão falsas. Isto é lógica pura. Já mostramos que, se existe alguma religião verdadeira ela não é o Islam, nem o Judaísmo, nem qualquer religião cristã.
Não cabe neste texto provar que Tupã, Zeus, Xangô, Júpiter, Shiva, Nanahuatzim, Odin ou cada deus e cada religião não sejam verdadeiras. Não temos nem espaço nem pesquisa para tanto. O hiper provável é que nenhuma dessas religiões seja verdadeira já que sua origem é a mente humana e seu motor é a crença através da fé.
Se existe um Deus verdadeiro ou não existe Deus algum é algo impossível de comprovar. Fato é que, caso ele exista, ele não quer, não pode ou não se interessa em comunicar-se com a mente humana.
A procura desse Deus pode ser válida, mas provavelmente terá o fim que propõem meu poema (Oração, publicado em Bátrakhos em 2017):
“Procuro tua face entre galáxias e estrelas.
Revolvo moléculas, átomos e partículas gregas.
Na vastidão dos oceanos,
Na imensidão do universo,
Na infinitesimal parte da matéria vasculho…
E só encontro o véu imenso que cobre o teu rosto.
Ouço muitas vozes em montanhas e desertos,
Sons de riachos irrequietos, de ventos instáveis,
Vozes de tormentas indecifráveis
E ensurdecedores sons de estrelas deglutidas.
Será alguma delas realmente a tua?
Quiçá nem mesmo fales
E o que ouço são ecos de vozes primárias
Que voltam do infinito.
Talvez nem te ocupes de existir…
Me abandonas desesperançado,
Procurando e procurando…
Até que eu mesmo me junte a ti.”
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