
Tupã está brabo! Diziam minhas criaturas toda vez que eu trazia uma tempestade. Devo confessar. Sou meio barulhento mesmo.
Chamavam-me também de Yamandu e, ao contrário desses deuses criados á semelhança do homem, eu era e sempre serei energia pura, energia primordial que sempre existiu. Há de se convir que sou muito mais confiável que qualquer outro tipo de Deus.
Bom, diz a história que fui responsável pela criação do mundo. O Albert, sim o Albert Einstein, chegou a calcular como fiz isto com sua equação famosa:
E=m.c2 que também pode ser escrita como m=E/c2.
Ou seja, matéria é feita de energia e também pode ser convertida de volta a energia. O pessoal de Hiroshima que o diga!
Como podem ver, sou um deus bem científico. Entretanto, considerando que montei o mundo no Paraguai, exatamente num local chamado Areguá, tive que usar algumas metáforas para explicar o ocorrido.
Então, expliquei que desci até lá e com ajuda da Araci (não a cantora de samba, mas a Araci Lua) criei os seres viventes. Claro que em toda evolução, assim que surgem novas espécies há de haver os dois primeiros entre eles. O par de humanos nomeei de Rupave e Sypave, ou seja, “Pai dos povos” e “Mãe dos povos”. Sem dúvida, são nomes mais razoáveis do que os atribuídos pelo meu concorrente Jeová. Como é óbvio, Ru é pai e Sy é mãe. Esses dois, como era de se esperar, tiveram filhos melhores e piores.
Houve um deles que nasceu meio trapaceiro. Mentiroso, coitadinho! Hoje nascem sociopatas, psicopatas e alguns até se elegem presidentes. Pois Japeusá foi tão desprezado que acabou cometendo suicídio por afogamento. Fui benevolente e o ressuscitei na forma de um caranguejo. O castigo que lhe dei foi ter que andar de lado. Infelizmente outros deuses não fazem o mesmo. Alguns os associam a moluscos!
Fossem os deuses atuais tão astutos como eu, a Terra seria coberta desses tipos de bicho.
Eu tive um inimigo na minha criação. Seu nome era Tau. Um espírito antigo que se casou com uma das filhas dos homens, Terana.
Ela teve filhos meio monstruosos, tipo demônios, mas bem mais plausíveis que os demônios de Jeová. Eram mauzinhos conforme a noção do meu povo. Por exemplo, Luison representava a morte. Um deles, e apenas um deles, não era um monstro. Era na verdade considerado uma figura bela. Seu nome era Jaci Jaterê. Gostavam muito dele pois era o Deus da sesta, isso mesmo, daquele descanso na rede depois do almoço. Esse meu povo era, digamos, um tanto quanto dado ao sossego. Coisa tropical, sabe como é? Também eram chegados a um pouco de canibalismo. Figadozinho com mandioca, miolinho com tucupi, depois tomar banho no rio, uma transadinha na rede, um bom soninho. Do jeitinho que o Mário conta em Macunaíma!
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