WAGNER RODRIGUES POETA E CRONISTA

TEXTOS ORIGINAIS E PUBLICADOS NOS LIVROS DO AUTOR

Odin (Crônica de Deuses no divã)

Nasci para criar, vivo para arrebentar. Meus prediletos sempre foram os Vikings, povo que vivia nas regiões gélidas, que lembram minha terra natal.

Tenho muitos outros nomes pelo mundo afora, mas eu, Odin, sou o verdadeiro Deus da Guerra. Descendente do gelo mágico de Ymir, filho de gigantes.

No maior dos meus sacrifícios matei o titã Ymir para criar a humanidade e todos os seres viventes. Assim percebi que a destruição é também a renovação, como pensava Xiva, meu primo estrangeiro.

Notem que guerra por guerra não tem sentido. Guerra sempre foi o caminho mais rápido para a renovação e desenvolvimento. Assim a guerra se justifica e os guerreiros merecem o reconhecimento.

Eu criei as Valquírias e prometi os prazeres de Valhala a todos os mortos heroicamente nas batalhas. Usei isto já que os humanos não percebem o tempo como nós, nem tem clareza dos propósitos dos deuses. Outro primo distante, embora um pouco hesitante, deus dos mulçumanos, tenta me copiar de maneira equivocada. Na guerra, não há espaço para hesitação. Há que partir para arrasar. Não há espaço para mudar de opinião.

Já ouviram falar de que os fins justificam os meios? Já ouviram falar que pelas obras se mede o autor? Acho que sim. São palavras sábias, palavras divinas.

Tenho um primo que teve um filho predileto. Notem que todos nós, deuses, temos filhos prediletos, frequentemente filhos de mulheres humanas. Caprichamos tanto na manufatura desses entes sedutores que nem mesmo nós deuses ficamos imunes a seus caprichos. Foi assim com Hercules, Perseu e, até com Jesus. Eu sou um dos poucos que me contive. Hércules e Perseu eram guerreiros. Entretanto o filho de Jeová se distanciou dos nossos conselhos.

O resultado foi gigantesco e avassalador. Criou uma das mais perversas filosofias da humanidade. Mesmo não privilegiando a guerra, foi sua filosofia ou religião a que mais matou na face da terra. Matou por perseguições e para criar uma pureza religiosa. Uma guerra com poder de destruição, mas sem progresso.

O resultado dessa guerra foram mil anos de obscuridade. Criaram a idade média e a falta de progresso e avanço científico.

Seus líderes diziam pregar o amor, mas dominavam todos com o temor físico e psíquico. Inventaram culpa, confissão e submissão. Forjaram a opressão e os opressores.

Se olharem, portanto, para os fins, para as obras, vejam os resultados que produzi. Comparem a Dinamarca, Noruega e Islândia com México, Brasil e Portugal. Podem até incluir os Estados Unidos como qualidade da sociedade para chegarem à conclusão do que estou tentando mostrar. Mesmo os Estados Unidos acabaram por ter o desenvolvimento que tiveram por causa da guerra. Foi grande país a prover para a reconstrução da Europa destruída pela Segunda Grande Guerra Mundial. Foram de uma economia em desenvolvimento à maior economia da terra. Entretanto não se desenvolveram como sociedade exatamente por essa dicotomia, essa ambivalência criada pela religião.

Sou deus, mas não uso minha prerrogativa para enganar a humanidade. Sou duro, mas justo. Sou, principalmente, sincero.

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